Mais de 40 mil transplantes foram realizados em 2021 - um recorde, de acordo com a Organ Procurement and Transplantation Network. O recorde é algo a se comemorar? Lógico! Representa um avanço? Sim! Mas ainda assim, são centenas de milhares de pessoas no mundo na fila por um órgão. Então quando a gente se depara com uma notícia arrasadora como essa, não tem como não ficar extasiado.
O Brasil é o país com o maior sistema público de transplante do mundo. No Brasil, no ano de 2021, eram 53.218 pessoas em busca de um órgão ou tecido. No nosso país existem 648 Hospitais de Transplantes habilitados e mais de 1.600 Equipes de Transplantes habilitadas. Pormenorizando o dado, das 53.218 pessoas, no Brasil, são 31.125 pessoas a espera por um rim, 19.115 a espera da córnea, 1.905 esperando pelo fígado, 387 pessoas esperando por um transplante duplo de pâncreas e rim, são 365 pessoas a espera de um coração e 259 a espera de um pulmão. (Dados do Ministério da Saúde de 27/09/2021)
Analisando esses dados fica claro que existe uma demanda ainda não atendida. É de conhecimento geral boa parte das dificuldades e limitações que envolvem os transplantes de órgãos, desde um doador compatível, taxas de rejeição e reação imune, e até a compreensão das pessoas sobre o assunto.
Foi notícia em todos os jornais do planeta que David Bennet de 57 anos foi a primeira pessoa do mundo a receber o coração de um porco através de um transplante. Falando assim pode até parecer simples, mas não, não é. A primeira coisa importante a falar é que o animal doador do coração foi geneticamente modificado. Segundo, o paciente tinha uma doença cardíaca terminal, estava inelegível para um transplante de coração convencional ou uma bomba de coração artificial - portanto "a única opção disponível naquele momento" para salvar a vida dele era o coração do animal.
Considerando a emergência da cirurgia devido às condições de saúde do paciente, o FDA concedeu a autorização para a cirurgia em 31 de dezembro de 2021. Um dos cirurgiões responsáveis Dr. Bartley P. Griffith, disse em comunicado à imprensa que "... não há corações humanos de doadores suficientes disponíveis para atender a longa lista de potenciais receptores".
Válvulas cardíacas de porco foram transplantadas para humanos durante muitos anos. Em outubro de 2021, o transplante de um rim de porco geneticamente modificado foi realizado em um mulher com morte cerebral, em Nova York. Então, não é de hoje que a ideia de usar manipulação genética em animais seja uma estratégia para resolver problemas graves de saúde.
Fato é que a primeira pessoa a receber um coração transplantado de um porco geneticamente modificado, está bem após o procedimento. Os médicos e pesquisadores esperam que esse avanço permita que mais pessoas sejam beneficiadas, mas ainda existem muitos obstáculos éticos e técnicos pelo caminho.
Médicos e cientistas do mundo todo estão há décadas pesquisando sobre a possibilidade do xenotransplante - transplantar órgãos de animais em pessoas. A cirurgia realizada pela equipe do Dr. Bartley Griffith representa um marco e um grande avanço nesse sentido.
Comentários