TDAH: da infância à idade adulta

TDAH: da infância à idade adulta

24 de março de 2023

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento prevalente, comumente diagnosticado na infância. Mas você sabia que o TDAH persiste durante toda a vida? Neste artigo, nós exploraremos as mudanças que ocorrem durante esse período (da infância à idade adulta) para melhor compreender as características do TDAH em crianças e adultos.

Visão geral

O TDAH está associado a prejuízos importantes na vida do indivíduo, na sua família e na sua comunidade. Na infância, esse transtorno afeta principalmente o processo de aprendizagem e a manutenção dos relacionamentos em casa e na escola. Na idade adulta, o TDAH prejudica a manutenção de relacionamentos, das finanças pessoais, e o controle do humor e temperamento.  

Ao longo dos anos, o TDAH passou por um processo de refinamento quanto a sua natureza clínica, neurobiologia, sintomas e terminologia (nós podemos falar sobre esse tópico no futuro). No início do século passado o TDAH era descrito como uma resposta hipercinética à infância com “danos cerebrais mínimos” – somente em 1940 é que os sintomas tipo TDAH foram associados à modificações no Sistema Nervoso Central. 

A existência da forma adulta do TDAH foi reconhecida oficialmente em 1980 pela Sociedade Americana de Psiquiatria. Até lá, acreditava-se que os sintomas desapareciam com a idade.

Atualmente a Sociedade Americana de Psiquiatria define o TDAH como uma condição do neurodesenvolvimento que persiste ao longo da vida, com critérios específicos para crianças e adultos.

Como os sintomas do TDAH mudam com a idade

O TDAH afeta 5% das crianças e adolescentes e 2,5% dos adultos em todo o mundo. Aproximadamente dois terços dos jovens com TDAH permanecem com o comprometimento funcional quando adultos. Mas apenas 15% destes indivíduos atendem aos critérios para diagnóstico na idade adulta (nota: o diagnóstico de TDAH é baseado em sintomas clínicos relatados por pacientes ou informantes).

Ao longo da vida, a ocorrência de alterações no desenvolvimento pode internalizar ou modificar alguns sintomas.

Na infância, os sintomas de TDAH são geralmente identificados como:

  • hiperatividade - muitas vezes a criança sobe em mesas ou não consegue ficar parada;

  • sintomas impulsivos - fala ou age sem pensar primeiro;

  • sintomas de desatenção - falta de concentração ou foco.

Da adolescência ao início da idade adulta, a hiperatividade e a impulsividade tendem a diminuir, mas a desatenção persiste e continua causando prejuízos.

Na idade adulta, os sintomas do TDAH podem se manifestar da seguinte forma:

  • sentimento de inquietação interior

  • dificuldade para relaxar

  • falta de foco

  • problemas com a organização e planejamento das suas atividades do dia-a-dia

  • dificuldade com gerenciamento de tempo

  • procrastinação e distração

  • baixa auto-estima.

Desenvolvimento cerebral e sintomas de TDAH

O TDAH é um transtorno complexo e heterogêneo. Pessoas com TDAH apresentam diferenças na estrutura, conectividade e funcionamento do cérebro.

Jovens (menores de 17 anos) com TDAH apresentam um atraso de aproximadamente 2 a 3 anos para atingir o pico de espessura do córtex cerebral, e volumes menores em várias estruturas subcorticais, incluindo aquelas associadas aos sistemas de atenção e recompensa.

Além dos déficits estruturais, os jovens com TDAH apresentam uma redução na conectividade funcional de algumas vias de sinalização, como nas vias dopaminérgica e noradrenérgica (consistente com o atraso na maturação do córtex cerebral).

O cérebro continua a se desenvolver e mudar na idade adulta, mas a infância e a adolescência são fases importantes no seu desenvolvimento. No TDAH, algumas alterações cerebrais observadas na infância se normalizam com a idade, o que poderia explicar as mudanças dos sintomas ao longo da vida.

O que você precisa saber

O TDAH é muitas vezes mal diagnosticado devido à diversidade de sintomas e sua apresentação entre os indivíduos. Se você se reconhece em algum desses sintomas, talvez esse seja o seu primeiro passo. Portanto, tenha em mente:

  • para obter um diagnóstico de TDAH, procure um profissional especializado;

  • o TDAH pode ser tratado com medicamentos, terapias, treinamento de habilidades ou uma combinação destes;

  • o tratamento farmacológico é eficaz, melhora a função cognitiva e reduz os sintomas de TDAH;

  • procure opções que ajudem a melhorar a sua qualidade de vida, como atividades físicas;

  • aprenda sobre o TDAH, isso pode ajudá-lo a entender melhor esse transtorno.

Existem milhões de pessoas com TDAH em todo o mundo, se você receber o diagnóstico, você não está sozinho.


Referências: Faraone, S., Asherson, P., Banaschewski, T. et al. (2015) Attention-deficit/hyperactivity disorder. Nature Reviews Disease Primers, 1, (15020).

ADHD: from childhood to adulthood

Attention-deficit/hyperactivity disorder (ADHD) is a prevalent neurodevelopmental disorder, often diagnosed in childhood. But did you know that ADHD can persist for a lifetime? In this article, we will explore the changes that occur during this time to better understand the characteristics of ADHD in children and adults.
 

A brief overview
 

ADHD is associated with substantial harm to the individual, family, and community. In childhood, this disorder affects learning and relationships at home and school. In adulthood, ADHD affects maintaining relationships, managing personal finances, and controlling mood and temperament.

Over the years, ADHD was refined about its clinical nature, neurobiology, symptoms, and terminology (we may talk about this in the future). At the beginning of the last century, it was described as a hyperkinetic response in childhood with “minimal brain damage” – only in the 1940s, ADHD-like symptoms were associated with changes in the Central Nervous System.

The existence of the adult form of ADHD was officially recognized only in 1980 by the American Psychiatric Association. Until then, it was believed that symptoms disappeared with age.

The American Psychiatric Association defines ADHD as a lifespan neurodevelopmental condition with specific criteria for children and adults.
 

How symptoms of ADHD change with age
 

ADHD affects 5% of children and adolescents and 2.5% of adults worldwide. Approximately two-thirds of youths with ADHD remain with functional impairment as adults. But only 15% meet all criteria for a diagnosis in adulthood (note: ADHD diagnosis is based on clinical symptoms reported by patients or informants). 

Throughout a lifetime, the occurrence of developmental changes can internalize or modify some symptoms.

In childhood, ADHD symptoms are identified as:

  • Hyperactivity – child often climbs on tables, can't stand still

  • Impulsive symptoms - speaking or acting without thinking first

  • Inattentive symptoms - lack of concentration or focus.

From adolescence to young adulthood, hyperactivity and impulsivity tend to decrease, but the inattention persists and continues to cause impairment.

In adulthood, symptoms of ADHD may manifest as follows:

  • Feeling of inner restlessness

  • Difficulty for relaxing

  • Lack of focus

  • Problems with organizing and planning your day-to-day activities

  • Difficulty with time management 

  • Procrastination and distraction

  • Low self-esteem.

Brain development and ADHD symptoms
 

ADHD is a complex and heterogeneous disorder. People with ADHD display differences in brain structure, connectivity, and function.

Youth (younger than age 17 years) with ADHD show a 2–3 year delay in reaching peak thickness of the cerebral cortex and smaller volumes in multiple subcortical structures, including those associated with attention and reward systems.

In addition to structural deficits, youth with ADHD show reduced functional connectivity of certain signaling pathways, as in the dopaminergic and noradrenergic pathways (consistent with delayed maturation of the cerebral cortex).

The brain continues to develop and change in adulthood, but childhood and adolescence are important stages in its development. In ADHD, some brain alterations observed in childhood normalize with age, which could explain the changes in the symptoms throughout the lifetime. 
 

What do you need to know?
 

ADHD is often misdiagnosed due to the diversity of symptoms and their presentation among individuals. If you recognize yourself in any of these symptoms, maybe that's your first step. So, keep in mind:

  • To obtain an ADHD diagnosis, look for a specialized professional

  •  ADHD can be treated with medications, therapies, skills training, or a combination of these

  • Medication is effective, improving cognitive function and reducing symptoms of ADHD

  • Look for options that help improve your quality of life, such as physical activities

  • Learn about ADHD, it can help you better understand this disorder.

There are millions of people with ADHD worldwide, if you get the diagnosis, you are not alone.


Referência:

Faraone, S., Asherson, P., Banaschewski, T. et al. (2015) Attention-deficit/hyperactivity disorder. Nature Reviews Disease Primers, 1, (15020).


 

Angela Patricia França
Angela Patricia França

Neurocientista, pesquisadora, escritora médica e científica, e mãe. Sou apaixonada por aprender e compartilhar conhecimento. Acredito na ciência e na comunicação científica como forma de melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas.

Neuroscientist, researcher, medical and scientific writer, and mother. I am passionate about learning and sharing knowledge. I believe in science and scientific communication as a way to improve people's health and well-being.

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