Qual a origem do SARS-CoV-2?

Qual a origem do SARS-CoV-2?

16 de junho de 2021

A resposta correta é...Não se sabe.
Recentemente, as discussões sobre a origem do vírus SARS-CoV-2 voltaram, não somente nas rodas de conversa, mas também entre cientistas e grandes líderes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) procedeu a primeira fase das investigações oficiais sobre a origem da pandemia durante o início de 2021 na China. Os resultados dessas investigações foram reportadas em março, ainda pouco conclusivas.
Ao longo de tantas investigações e pesquisas (e também alguns palpites e especulações) acabam surgindo diferentes hipóteses. Enquanto muitos cientistas, e a grande maioria das evidências, reforçam a hipótese de origem natural, outros ainda pedem por maiores investigações quanto a uma possível origem em laboratório. Para esclarecer os pontos principais dessa discussão, trouxemos aqui os principais argumentos envolvidos.

Origem natural

Argumentos e evidências a favor dessa hipótese
  • A teoria de vazamento do vírus de laboratório de pesquisa não é coerente, pois o SARS-CoV-2 é um vírus nunca antes reportado em nenhuma literatura científica.
  • As análises do genoma do vírus não mostram evidências de que houve manipulação genética do mesmo.
  • Dentre as condições ambientais e culturais da região, assim como as características sabidas do vírus até o momento, a hipótese da origem natural é a mais plausível.
  • Em sua maioria, a comunidade científica entende como mais coerente essa hipótese.
  • Não existem outras hipótese com evidências fortes até o momento.
Argumentos e evidências contra essa hipótese
  • Ainda existem muitas dúvidas sobre qual o animal intermediário nesse contexto, quando e como ocorreu a contaminação.
  • A sugestão de que seria um morcego ainda é forte, apesar de o coronavírus isolado desse animal demonstrar apenas 96% de similaridade com o SARS-CoV-2.
  • As evidências existentes não são conclusivas.

Origem em laboratório

Argumentos e evidências a favor dessa hipótese
  • Essa hipótese é baseada no fato de que em Wuhan, cidade com os primeiros casos da doença, existe um laboratório de virologia, o Wuhan Institute of Virology, especializado no estudo de coronavírus.
  • Não seria a primeira vez que a China omite dados de saúde pública, o que não colabora para que as autoridades deixem de suspeitar de "lab leak".
  • Mais de um ano após o início da pandemia, ainda não foi encontrado um "parente próximo" do SARS-CoV-2 em animais.
  • Alguns dizem que o vírus é derivado de um outro coletado em uma mina pelo laboratório de Wuhan para pesquisa, entre 2012 e 2015.
  • Não existem evidências concretas que suportem a hipótese de origem natural.
Argumentos e evidências contra essa hipótese
  • É comum que laboratórios de virologia se especializem em vírus comuns de suas regiões. Por exemplo, existem laboratórios especializados em febre hemorrágica na África, em Influenza vírus na Ásia e em dengue na América Latina.
  • Se houvesse manipulação genética envolvida, algum dos vários sistemas de genética reversa disponíveis para coronavírus teria sido usado. E as análises genéticas mostram que o SARS-CoV-2 não é derivado de nenhuma estrutura de vírus previamente utilizada nesse tipo de experimento.
  • A equipe de trabalhadores do laboratório em questão atesta que nenhum deles possui anticorpos contra SARS-CoV-2 ou qualquer indício de infecção anterior pelo vírus. Ainda, comentam sobre todos os treinamentos e acompanhamento psicológicos que recebem para a condução de seus trabalhos no laboratório.
  • É difícil isolar um vírus específico em um animal e caracterizá-lo. Até hoje, um vírus ebola ainda não foi isolado em um animal na região mais afetada do mundo entre 2013 e 2016.
  • Não existem evidências que suportem essa hipótese.

A maioria dos pesquisadores pesquisadores sugere que a origem do vírus se deu por seleção natural em hospedeiro animal ou por seleção natural em humanos após transferência zoonótica. Os detalhes do ocorrido ainda são desconhecidos, porém, a versão mais plausível (com base em análises genômicas e contexto histórico) é a de que envolve um animal intermediário - possivelmente um dos animais que são vendidos em mercados abertos - passou SARS-CoV-2 aos humanos após se infectar com um coronavírus predecessor de morcegos. As investigações da Organização Mundial da Saúde (OMS) com relação a origem do vírus (março 2021) também reforçam a hipótese de que o SARS-CoV-2 teve origem em mercados que vendem animais mortos e vivos, como o Huanan em Wuhan, na China.
O presidente americano Joe Biden solicitou ao US Intelligence Community que conduza uma investigação paralela quanto a origem do vírus, com data para entre de relatório em meados de agosto.
Comecei esse texto dizendo que não se sabe de onde surgiu o SARS-CoV-2. Termino ainda dizendo que não sabemos e que talvez nem cheguemos a saber.
Referências: 1. Nature News Explainer - 8/6/2021 -The COVID lab-leak hypothesis: what scientists do and don’t know https://doi.org/10.1038/d41586-021-01529-3. 2. Nature Medicine - The proximal origin of SARS-CoV-2 https://doi.org/10.1038/s41591-020-0820-9
Nature News Explainer - 1/4/2021 - After the WHO report: what’s next in the search for COVID’s origins https://doi.org/10.1038/d41586-021-00877-4. 3. Nature News - 30/03/2021 - WHO report into COVID pandemic origins zeroes in on animal markets, not labs https://doi.org/10.1038/d41586-021-00865-8. 4. The Lancet - 09/2020 - The origin of SARS-CoV-2 https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30641-1.

Jaqueline Carneiro
Jaqueline Carneiro
PhD | Cientista

Farmacêutica, pesquisadora, professora, e co-fundadora do Rigor Científico, encontrou na ciência um lugar no qual aplicar a determinação aprendida com os esportes. A beleza e a complexidade da Química Medicinal a fizeram seguir por esse caminho, que a levou até laboratórios de pesquisa e outros lugares do mundo. Ser professora era visto como um efeito colateral, até pisar numa sala de aula. Naquele instante, mais madura pessoalmente e profissionalmente, percebeu possibilidades de impactar vidas diretamente. Hoje sonha alto e quer trazer mais pessoas para o seu mundo de ciência.

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