Medos na primeira infância e saúde mental

Medos na primeira infância e saúde mental

16 de janeiro de 2023

Comportamento inibido x desinibido

O estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Texas, publicado em 26 de outubro/2022 na JAMA Psychiatry, acompanhou um coorte de 165 indivíduos de 4 meses de idade, entre 1989 e 1993, até os 26 anos.
Os cientistas demonstraram que medos precoces, experimentados entre os primeiros dois anos de vida, desempenham um papel chave no desenvolvimento de ansiedade e depressão no futuro por essas crianças. As descobertas destacam diferentes mecanismos no cérebro e os relacionam com quem corre maior risco de desenvolver diferentes problemas de saúde mental no futuro.
Quando os bebês são expostos a novos objetos, pessoas ou situações, alguns reagem positivamente e os abordam sem medo, enquanto outros respondem com cautela ou evitação. Essa diferenciação define comportamento desinibido versus comportamento inibido. Crianças inibidas são mais propensas a ter transtornos de ansiedade mais tarde, particularmente ansiedade social, que começa no final da infância até a adolescência.

Papel do estriado ventral

Uma área cerebral avaliada pelos pesquisadores foi o estriado ventral, uma região do cérebro bem estudada em termos de depressão no paciente adulto. A intenção dos pesquisadores foi compreender se havia uma relação entre esse processo maladaptativo de resposta de medo e alterações de sinalização nessa região dos pacientes já na fase adulta. 
Alguns pacientes mostraram uma ativação reduzida dessa região durante a adolescência. Isso permitiu aos pesquisadores associarem o comportamento inibitório na infância com o agravamento dos sintomas depressivos entre os 15 e 26 anos, apenas nos pacientes que apresentaram uma menor atividade no estriado ventral quando adolescentes. A inibição comportamental aos 12 a 24 meses de idade foi associada a um risco aumentado de desenvolver depressão, maior do que ansiedade, mais tarde na vida.

Intervenções sociais

Já existem intervenções para crianças socialmente ansiosas e com comportamento inibido que melhoram as habilidades sociais e cognitivas. Intervenções adicionais para essas crianças podem visar déficits motivacionais, como ajudá-las a aprender a criar ativamente condições nas quais possam se envolver socialmente com colegas e buscar experiências positivas. Isso, por si só, pode reduzir a probabilidade de desenvolver depressão que se origina de estar socialmente desengajado ou perder oportunidades de experiências positivas.
Esse estudo mostrou que tanto os fatores de risco precoces (medo, comportamento inibido), quanto alterações no processamento neurocognitivo de recompensas, estão envolvidos na contribuição para o desenvolvimento da depressão. Estudos futuros devem examinar a eficácia dos programas de prevenção, que visam o processamento desadaptativo de recompensas e déficits motivacionais entre jovens ansiosos, na redução dos riscos de depressão posterior.
Ref. https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/article-abstract/2797527
 

Marissa G. Schamne
Marissa G. Schamne
PhD | Cientista

Pesquisadora e professora universitária, farmacêutica por formação. Despertou o interesse pela pesquisa durante a faculdade na Iniciação Científica, que obviamente foi na área da neuropsicofarmacologia. Concluída a graduação, segue o caminho da carreira acadêmica e pesquisa até a co-fundação do Rigor Científico – onde encontrou uma maneira de expressar todo seu amor pela Ciência, e vislumbra a possibilidade de levar essas informações ao maior número possível de pessoas. Era uma pessoa tímida que conforme foi se inserindo no meio acadêmico encontrou uma forma de libertar-se dessa timidez, e agora matraqueia sem parar. Apaixonada pela natureza, esportes ao ar livre e a sensação de liberdade que isso traz. Gosta de viajar pelo mundo, seja através dos livros que lê ou das viagens que faz. Almeja alçar vôos mais altos divulgando ciência por aí.

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