Julgamentos
22 de maio de 2023

Olá, 
Como estão?

 
Hoje venho conversar com vocês sobre julgamentos. 
 
Esses dias ouvi de uma amiga que talvez eu não devesse escrever o que penso em redes sociais, mesmo que baseada em ciência, porque eu poderia ser “cancelada” ou ser mal interpretada por muitas pessoas, “ganhar haters”. E eu respondi a ela, que eu não me importava se algo do tipo acontecesse, porque para mim a internet é um meio de comunicação, e ninguém conseguiria agradar a todos com falas ou expressões sobre temas diversos, pois cada um tem o direito de pensar o que mais o agrada.
 
Passaram alguns dias e estou eu aqui pensando e escrevendo para vocês sobre essa conversa. Será que realmente não me importaria de ser cancelada? Então porque estou abordando esse tema agora? 
 
Pois é, acho que de alguma forma me gerou um incômodo pensar nos meios virtuais e seus julgamentos. 
Vivemos em uma realidade virtual hostil. Quem diria que além de termos medo de sair às ruas, devido aos perigos com assaltos, também ficaríamos com medo de sermos roubados "ciberneticamente”? E digo roubados, porque é o que sinto quando me vejo com receio de escrever algo em um post ou outro. Sinto como se estivessem tirando um pedaço de mim, me tirando a liberdade de ser quem sou, independente do lugar. 
 
Parece que as pessoas estão ficando cada vez mais ignorantes (no sentido fiel a palavra, de ignorar informações). Ninguém mais quer ler um texto até o final, e se leem um título e inferem algo sobre seus próprios pensamentos, logo comentam com irritabilidade e arrogância, execrando o outro, que muitas vezes nem conhecem e que nem sequer procuraram saber quem é. O ódio que sai em escritas, toma conta e como em um ninho de ratos, um querendo o maior pedaço do “queijo”, tentam se expor e falar ainda mais palavras ásperas e inadequadas. 
 
O online, que antes pensávamos ser um ambiente seguro e cheio de descobertas, como uma porta para conexões para expandir a consciência, está ficando cada dia mais seletivo e perigoso. Pessoas que buscam um meio de interação, de convivência virtual, de entretenimento, com desejo de lerem coisas agregantes e instrutivas, estão ficando desestimuladas, pois parece que o que reina no virtual são sentimentos ruins, notícias de catástrofes e insalubres. 

E, vejo tudo isso refletir na vida real. Os consultórios médicos nos dias de hoje estão cheios de pessoas adoecidas. Muitos que tentam fazer do ambiente virtual um lugar de comunicação leve ou mesmo empresarial, vem sofrendo crises de ansiedade, de medo, de pavor. São indivíduos que sofrem tentando encontrar um lugar dentro desse aglomerado, e que ficam desolados pelo poder da palavra do outro sobre si mesmos.
 
E o outro, o que entra nas redes para provocar, para dizer palavras ruins, se vê no direito de invadir a rede de estranhos, sem muitas vezes enxergar que faz isso por estar adoecido, em busca de preencher um vazio que os assola por dentro, por meio de criticar o que o outro tem, justamente porque queria o ter. Invertendo os valores e machucando cada vez mais esses dois mundos em que vivemos.

Mas o que fazer para diminuir essa lesão que cancelamentos fazem, como tratar essa ferida? 
 
Para conseguirmos deixar de lado a opinião alheia, é preciso cultivar a autoestima e a autoconfiança. Devemos ter clareza sobre nossas próprias opiniões e valores e não permitir que os outros nos diminuam. Além disso, é importante lembrar que ninguém é perfeito e que todos cometemos erros. O importante é aprender com eles e seguir em frente, em vez de se deixar abater pelo julgamento.
 
Por fim, é fundamental lembrar que o cancelamento na internet não é a realidade. Muitas vezes, as pessoas que nos julgam nas redes sociais não têm o poder de afetar nossa vida real, pois não fazem parte dela. É importante manter uma perspectiva equilibrada sobre a realidade e focar em cultivar nosso autoconhecimento e nossos preceitos. A opinião dos outros na internet não pode definir quem somos ou as convicções que temos como indivíduos.
 
Portanto, se tiver uma opinião sobre algum assunto, e essa for dentro de princípios adequados, não for para julgar ou ferir alguém, se liberte e escreva, fale. O que precisamos é de mais pessoas coerentes e dispostas a melhorar o mundo em que vivemos, seja ele virtual ou real.
 
E você, o que pensa sobre isso?
Conte um pouco para nós.
 
Um abraço, e até logo.

Quéren Sales
Quéren Sales

Médica psiquiatra formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - Curitiba. Residência Médica em Psiquiatria no Hospital Psiquiátrico São Pedro - Escola de Saúde Pública - RS. Fellowship em Neuropsiquiatria Geriátrica HCPA-RS.

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