Diversas razões permitem hipotetizar a relação do uso da marijuana com o envelhecimento epigenético acelerado, além do uso da maconha já ter sido associado a uma gama de alterações no epigenoma.
Mas qual seria esse mecanismo atribuído à maconha? Considerando que a maioria dos efeitos deletérios da maconha estejam relacionados à função pulmonar, é razoável considerar que os efeitos prejudiciais surjam após a inalação da fumaça da substância. A fumaça da marijuana é geralmente inalada profundamente e contém níveis elevados de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos pró-carcinogênicos (ex.: benzopireno e benzantraceno).
Um sítio epigenético (cg05575921) do gene AHRR (aryl hydrocarbon receptor repressor) tem sido explorado como um potencial marcador de alterações epigenéticas relacionadas com o uso da maconha. A hipometilação desse sítio do gene AHRR está associada ao hábito tabágico. Portanto, os cientistas concordam que esse sítio epigenético representa uma excelente ferramenta para o teste da associação entre o uso da maconha e alterações epigenéticas relacionadas ao envelhecimento.
Para responder essa questão, pesquisadores de duas universidades norte-americanas realizaram um estudo prospectivo durante 17 anos para avaliar a relação entre o uso médio de maconha por indivíduos entre 13-29 anos e as alterações do epigenoma relacionadas ao envelhecimento. O epigenoma de 154 pessoas foi analisado. Os participantes escolhidos aos 13 anos precisavam relatar o nível anual de consumo de maconha por um período de 17 anos.
Os resultados da pesquisa evidenciaram que aqueles participantes que fazem uso frequente da maconha, quando atingem 30 anos, possuem mais alterações epigenéticas ligadas ao envelhecimento, com evidências sugerindo que isso deva-se principalmente à inalação de hidrocarbonetos aromáticos. Além disso, o estudo mostrou que esse nível de alteração é dose-dependente, ou seja, quanto maior a utilização de maconha pelos indivíduos, maior será a aceleração epigenética da idade.
Os pesquisadores acreditam que essas modificações epigenéticas relativas ao envelhecimento precoce sejam causadas pelo ato em si de fumar, e não pela ingestão do tetra-hidrocarbinol (THC) ou qualquer outro componente ativo da erva. Embora consistentes, esses dados não podem estabelecer um papel causal do uso da maconha no envelhecimento epigenético. Outras pesquisas são necessárias para explorar os mecanismos dessa associação.
Referências: 1. Allen, J.P., Danoff, J.S., Costello, M.A., et al. Lifetime marijuana use and epigenetic age acceleration: A 17-year prospective examination. Drug and Alcohol Dependence, v. 233, 2022. 2. Belski, D.W., Caspi, A., Arseneault, L., et al. Quantification of the pace of biological aging in human through a blood test, the DunedinPoAm DNA methylation algorithm. Elife 9, 2020. 3. Markunas, C.A., Hancock, D.B., Xu, Z., et al. Epigenome-wide analysis uncovers a blod-based DNA methylation biomarker of lifetime cannabis use. Am. J. Genet. B Neuropsychiatr. Genet., 2020. 4. Lu, A.T., Quach, A., Wilson, J.G., et al. DNA methylation GrimAge strongly predicts lifespan and healthspan. Aging, v. 11, 2019. 5. Caulkins, J.P., Kilmer, B., Kleiman, M.A. Marijuana legalization: What everyone needs to know. Oxford University Press.
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