Você provavelmente já ouviu falar que o comportamento dos pais e as relações entre pais e filhos desempenham um papel no desenvolvimento físico, cognitivo e mental das crianças.

Você talvez saiba que o comportamento das crianças contribui para conflitos familiares e monitoramento dos pais.

Mas será que existe alguma estrutura cerebral ligada à associação entre ambiente familiar e problemas comportamentais em crianças?

Os primeiros anos de vida representam um período sensível para o crescimento, aprendizagem precoce e maturação cerebral. O desenvolvimento cognitivo precoce das crianças estabelece as bases para a aprendizagem e o bem-estar ao longo da vida.

Assim, identificar alguns fatores que podem ser modificados durante este período é essencial para o desenvolvimento de programas e políticas destinadas a reduzir disparidades precoces no desenvolvimento.

A compreensão científica da infância e da adolescência oferece oportunidades para desenvolver abordagens positivas para a saúde, educação e sucesso social e econômico ao longo da vida.

As competências desenvolvidas na infância são construídas em parte dentro de trocas sociais cooperativas e, em parte, mediadas geneticamente. Assim, os ambientes familiares têm sido associados a problemas comportamentais em crianças.

Em um estudo recente, os pesquisadores avaliaram a associação entre os problemas comportamentais de 8.756 crianças (de 9 a 11 anos) com dois scores do ambiente familiar: o conflito familiar (que reflete o conflito entre os membros da família) e monitoramento dos pais (incluindo discussão e interação social com as crianças).

Alto conflito familiar e baixa pontuação de monitoramento dos pais foram associados a problemas comportamentais em crianças, incluindo:

• Comportamentos agressivos, de conduta e de oposição

• Baixo desempenho cognitivo

• Diagnósticos de transtornos mentais ao longo da vida.

Em um ambiente com alto conflito familiar e baixo monitoramento dos pais, os problemas comportamentais das crianças foram associados a menores áreas corticais - incluindo o córtex orbitofrontal, o córtex cingulado anterior e o giro temporal médio.

Uma análise longitudinal indicou que os problemas de comportamento das crianças na idade basal foram associados ao aumento do conflito familiar e à diminuição do monitoramento dos pais após 1 ano de acompanhamento.

Foi observado um efeito inverso, porém foi menos significativo. Ao avaliar a história psiquiátrica dos familiares, foi observado que ela está associada ao desenvolvimento de problemas comportamentais em crianças, indicando um componente genético para os problemas psiquiátricos.

Esses resultados também indicam um efeito comportamental bidirecional em que os filhos influenciam os pais e os pais influenciam os filhos.

Este estudo longitudinal em grande escala sugere que:

• Maiores problemas de comportamento em crianças foram associados a maiores conflitos familiares

• Menores problemas comportamentais em crianças foram associados a maior monitoramento dos pais

• Maiores problemas de comportamento em crianças aumentaram o conflito familiar e diminuíram o monitoramento dos pais ao longo de 1 ano

• O comportamento e a cognição das crianças, e o monitoramento dos pais e os conflitos familiares são parcialmente mediados por diferenças na área e no volume de regiões cerebrais – incluindo o córtex orbitofrontal e o córtex cingulado anterior.

Esses resultados enfatizam as relações entre a estrutura cerebral das crianças, seus ambientes familiares e seus problemas comportamentais. Este estudo explora o papel complexo da relação gene-ambiente, suas interações e associações, por isso não avalia a sua causalidade.

Os resultados indicam que uma contribuição genética na estrutura cerebral das crianças pode afetar o seu comportamento e cognição. Essas alterações comportamentais e cognitivas podem influenciar os problemas familiares e as medidas de monitoramento dos pais no ambiente familiar.

REFERÊNCIA:
Gong, W., Rolls, E.T., Du, J. et al. Brain structure is linked to the association between family environment and behavioral problems in children in the ABCD study. Nat Commun 12, 3769 (2021).