Epigenética e compulsão alimentar

Epigenética e compulsão alimentar

14 de setembro de 2022

Principais marcadores epigenéticos na vulnerabilidade ao desenvolvimento de compulsão alimentar

A compulsão alimentar está relacionada com a ingestão descontrolada de alimentos associada à obesidade e transtornos alimentares (ex.: anorexia e bulimia). Estudos classificam a compulsão alimentar como um transtorno cerebral complexo, crônico e multifatorial, resultado da interação de múltiplos genes e fatores ambientais.O número de casos de compulsão alimentar vem crescendo no mundo todo, consequência de N fatores, como estilo de vida, busca por um padrão corporal perfeito, comparação com os demais, pressão externa (do trabalho, amigos, parceiros), entre outros. Não existem tratamentos eficazes para essa condição.
Os cientistas já identificaram os mecanismos neurobiológicos envolvidos a compulsão alimentar. Os estudos descrevem a participação de certas áreas corticais do cérebro na perda do controle da ingestão de alimentos.
Uma vez identificado esses mecanismos, os pesquisadores se questionaram o motivo de alguns indivíduos serem resilientes e outros não. Para responder essa pergunta, a pesquisa focou em fatores epigenéticos (fatores externos ou ambientais que modificam a expressão gênica sem provocar alterações no DNA),  especificamente nas áreas do córtex cerebral relacionadas a esse comportamento compulsivo.

O estudo

Existem diferentes mecanismos epigenéticos, neste caso, os cientistas se concentraram nos microRNAs (pequenas moléculas de RNA que regulam a expressão gênica de maneira complexa e dinâmica). A pesquisa aconteceu tanto em roedores como em humanos.
Curiosamente, os mesmos microRNAs que estavam alterados no cérebro de roedores, estavam também alterados no cérebro humano. Os microRNAs estudados estão associados ao grau de compulsão alimentar. Esses mesmos microRNAs envolvidos em processos de compulsão alimentar, relacionam-se com a digestão de lipídeos e carboidratos, alterações morfológicas no cérebro, resistência à insulina ou mesmo dependência de certas substâncias, como as metanfetaminas.

Os dados deste estudo permitiram identificar dois componentes principais de alteração comportamental: alta motivação para obter alimentos e busca compulsiva pelo alimento, apesar dos efeitos negativos desse comportamento. 
Um dos pontos altos deste estudo é o significativo componente translacional - tão importante nas pesquisas - uma vez que foram encontradas similaridades entre os resultados em roedores e humanos.
O papel da epigenética na vulnerabilidade à compulsão alimentar abre caminho para a identificação de biomarcadores para o diagnóstico precoce da doença e a busca de terapias futuras que possam modificar a expressão dos microsRNAs.
Referência: García-Blanco, A., Domingo-Rodriguez, L., Cabana-Domínguez, J., et al. MicroRNAs signatures associated with vulnerability to food addiction in mice and humans. JCI, 2022

Marissa G. Schamne
Marissa G. Schamne
PhD | Cientista

Pesquisadora e professora universitária, farmacêutica por formação. Despertou o interesse pela pesquisa durante a faculdade na Iniciação Científica, que obviamente foi na área da neuropsicofarmacologia. Concluída a graduação, segue o caminho da carreira acadêmica e pesquisa até a co-fundação do Rigor Científico – onde encontrou uma maneira de expressar todo seu amor pela Ciência, e vislumbra a possibilidade de levar essas informações ao maior número possível de pessoas. Era uma pessoa tímida que conforme foi se inserindo no meio acadêmico encontrou uma forma de libertar-se dessa timidez, e agora matraqueia sem parar. Apaixonada pela natureza, esportes ao ar livre e a sensação de liberdade que isso traz. Gosta de viajar pelo mundo, seja através dos livros que lê ou das viagens que faz. Almeja alçar vôos mais altos divulgando ciência por aí.

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