O processo da memória é dividido em dois sistemas e suas subdivisões: memória de longo prazo, compreendendo memória declarativa (memória para episódios de alta complexidade: eventos e fatos) e não declarativa (condicionamento de associações simples estímulo-resposta), e memória operacional. Dentro disso, a formação de memória de longo prazo é uma das principais funções do sono.
De acordo com a revisão feita por Klinzing, Niethard, & Nascido (2019), e com base em evidências de estudos neurofisiológicos, a consolidação de memória de longo prazo durante o sono ocorre através de sistemas ativos que estão incorporados em um processo sináptico global. Os autores descrevem esses sistemas envolvendo a repetição neuronal de representações originadas do hipocampo durante o sono, que leva a uma transformação gradual e a integração de representações em redes neocorticais.
A consolidação, pensando-se de forma básica, é o processo que transforma representações recém-codificados, que são passíveis de esquecimento, em memórias mais estáveis. Isto posto, Klinzing, Niethard, & Nascido (2019) relatam que quando um episódio é codificado, diferentes áreas do cérebro hospedam componentes dessa experiência, e assim, o hipocampo atua transformando esses elementos em uma única memória. Consequentemente, a memória começa altamente dependente do hipocampo, por isso que o paciente H.M. não conseguia mais consolidar memórias após a cirurgia, uma vez que, as repetições de padrões de disparo em conjuntos de neurônios hipocampais é uma característica fundamental da consolidação.
Durante o sono, os processos de consolidação sináptica desencadeados por ativação neuronal fortalecem as representações de memória e, assim, permitem a integração às memórias de longo prazo pré-existentes; como, por exemplo, conectando aquelas informações recém estudas com o que já passou pelas etapas de aprendizagem, promovendo integração.
Inicialmente, aceitava-se que o sono teria um efeito somente protetor nas memórias recém adquiridas e ainda lábeis (aquele conteúdo que a gente estudou um dia antes da prova), impedindo que elas sejam substituídas por novas informações, porém sabe-se que não é somente um processo protetivo e sim ativo de consolidação. Assim, observa-se que a perda de sono, ou seja, acordar durante a noite, ter um sono com interrupções, compromete o armazenamento e a consolidação de memórias.
Referências: 1. Klinzing, J.G., Niethard, N. & Born, J. Mechanisms of systems memory consolidation during sleep. Nat Neurosci 22, 1598–1610 (2019). 2. Fuentes, D.; Malloy-Diniz, L.F.; Camargo, C.H.P. & Cosenza, R.M. Neuropsicologia: teoria e prática. São Paulo: ArtMed, 2014.
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