Depressores do sistema nervoso central

Depressores do sistema nervoso central

14 de setembro de 2022

A comunicação no Sistema Nervoso Central (SNC) ocorre por vias excitatórias ou inibitórias. Em vias excitatórias, canais iônicos são abertos para permitir a entrada global de íons com cargas positivas, resultando em despolarização de neurônios. Já em vias inibitórias, movimentos iônicos, como saída de cargas positivas da célula ou entrada de cargas negativas, causam hiperpolarização de neurônios, suprimindo sua atividade. 

O principal neurotransmissor inibitório é o GABA (ácido gama-aminobutírico), que atua em receptores do tipo GABA-A, permitindo a entrada de cloreto, levando à hiperpolarização da célula. Alguns fármacos atuam potencializando a ação do GABA, ou seja, ativando vias inibitórias, que podem diminuir a atividade do SNC. São os chamados depressores do SNC, como os hipnóticos-sedativos, anestésicos, antiepilépticos e ansiolíticos.


 

Barbitúricos

Os barbitúricos são derivados 5,5-di-substituídos do ácido barbitúrico que aumentam a resposta inibitória GABAérgica. De acordo com a sua estrutura química podem variar em termos de resposta e tempo de ação. Se administrados em altas doses, podem provocar morte por parada cardiorrespiratória. Alguns dos exemplos mais conhecidos são o tiopental (utilizado como medicação adjuvante de anestesia - principalmente na medicina veterinária), e o fenobarbital (popularmente conhecido pelo nome comercial de Gardenal®).

Benzodiazepínicos

Na década de 60, Hoffmann-La Roche introduziu o clorodiazepóxido no mercado com o nome comercial Librium® e buscou modificações moleculares para melhorar sua atividade. O diazepam (Valium®) lançado em 1963, tornou-se o protótipo da classe dos benzodiazepínicos. Esses fármacos são agonistas GABAérgicos relativamente mais seguros do que os barbitúricos, porém ainda com baixa margem terapêutica e alto índice de dependência. Outros exemplos dessa classe são o clonazepam (Rivotril®), o lorazepam (Lorax®), o flunitrazepam (Rohypnol®), o midazolam (Dormonid®), entre vários outros.

Z-drugs

Os agonistas GABA não-benzodiazepínicos, ou Z-drugs, foram introduzidos no mercado na década de 90. Atuam no receptor GABA de forma seletiva, sendo mais seguros e apresentando menos efeitos colaterais do que os BZD, menor tolerância e menor risco de dependência. São utilizados no tratamento da insônia, com rápido início da hipnose e com menos efeitos amnésicos. São eles: zolpidem, zaleplona e zoplicona.


Apesar de não se enquadrar como substância terapêutica, um depressor do SNC muito utilizado é o álcool. É a droga mais consumida no Brasil, de acordo com o último Levantamento sobre o Consumo de Drogas no país realizado pela FioCruz. O mecanismo de ação do álcool no cérebro é o mesmo que o mencionado acima para os barbitúricos, BZD e Z-drugs. Inclusive, as mesmas observações sobre tolerância, dependência e margem terapêutica também podem ser aplicadas aqui.

 

Os depressores do SNC são psicofármacos de extrema relevância clínica e importante no tratamento de diversas condições de saúde. Entretanto, devem ser utilizados com segurança e cautela, sempre orientado por um profissional da saúde.


 

Jaqueline Carneiro
Jaqueline Carneiro
PhD | Cientista

Farmacêutica, pesquisadora, professora, e co-fundadora do Rigor Científico, encontrou na ciência um lugar no qual aplicar a determinação aprendida com os esportes. A beleza e a complexidade da Química Medicinal a fizeram seguir por esse caminho, que a levou até laboratórios de pesquisa e outros lugares do mundo. Ser professora era visto como um efeito colateral, até pisar numa sala de aula. Naquele instante, mais madura pessoalmente e profissionalmente, percebeu possibilidades de impactar vidas diretamente. Hoje sonha alto e quer trazer mais pessoas para o seu mundo de ciência.

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