A infecção pelo novo coronavírus pode ser considerada o maior problema de saúde pública da atualidade no mundo. Toda a atenção dos grupos de pesquisas, governos e indústria farmacêutica está voltada na busca de vacinas, medicamentos ou terapias eficazes no combate ao SARS-CoV-2. O primeiro medicamento do mundo para o tratamento da COVID-19 foi batizado de Coronavir, da empresa farmacêutica R-Pharm e surgiu com a premissa de impedir a replicação do SARS-CoV-2. Trata-se de um medicamento específico para o novo coronavírus, o favipiravir, voltado para pacientes não-hospitalizados, ou seja, com infecções leves a moderadas provocadas pelo vírus.
De acordo com dados da R-Pharm, 55% dos pacientes tratados com o Coronavir apresentaram melhora no sétimo dia do tratamento, enquanto apenas 20% dos pacientes evoluíram positivamente no sétimo dia de tratamento padrão. Após 5 dias de tratamento, o SARS-CoV-2 foi eliminado em 77,5% dos pacientes que receberam a medicação. O estudo foi realizado em mais de 110 pacientes pelo Instituto Central de Epidemiologia da Rússia, e já encontra-se registrado para uso nesse país. O favipiravir, princípio ativo do Coronavir, também foi testado na China e no Japão. Inclusive, no Japão é bastante utilizado como base para tratamentos antivirais.
O favipiravir é uma molécula bem tolerada, que após administração encontra-se 60% ligada às proteínas plasmáticas. Alguns ensaios clínicos indicaram que apesar de bem tolerado, o favipiravir pode provocar alterações em enzimas hepáticas, sintomas gastrointestinais e elevação dos níveis séricos de ácido úrico. O mecanismo de ação do favipiravir baseia-se na inibição seletiva da RNA polimerase, ou seja, o fármaco incorpora-se no RNA viral e então, inibe o RNA dependente da RNA polimerase (RdRp). Esse fármaco é eficaz contra diversos tipos de vírus, como o H1N1, H5N1 e H7N9. O favipiravir também é capaz de inibir cepas de vírus resistentes aos antivirais.
Além de ser efetivo contra cepas do vírus Influenza, o favipiravir também possui atividade contra arenavirus, bunyavirus, flavivirus e filoviruses. Durante a epidemia de ebola em 2014-2015, no oeste africano, o favipiravir foi utilizado no tratamento de pacientes, apresentando bons resultados. Pelo sequenciamento do genoma do SARS-CoV-2, foi possível identificar o vírus como uma fita simples de RNA com a RdRp similar aos demais tipos de coronavírus (SARS-CoV-1 e MERS-CoV-2), por isso o favipiravir é considerado uma ótima estratégia contra a COVID-19.
Na maioria dos ensaios clínicos conduzidos utilizando o favipiravir, os resultados dos pacientes foram superiores ao tratamento padrão, sugerindo uma boa efetividade do fármaco. A dose de favipiravir utilizada no Japão para o tratamento de infecções pelo vírus Influenza é de 3200 mg por dia (1600 mg a cada 12h) no dia 1, seguido de duas administrações diárias de 600 mg por até 5 dias. No ensaio clínico chinês que investigou a efetividade desse medicamento na COVID-19, as doses foram as mesmas, porém o tratamento de manutenção (600 mg, 2 vezes ao dia), permanece por até 14 dias. Alguns estudos mostram que pode existir uma variabilidade étnica em relação à farmacocinética do favipiravir, que não deve ser ignorada se o fármaco realmente for proposto para essa finalidade.
Então, o favipiravir, na forma de Coronavir, proposto pelos cientistas russos, pode ser uma boa estratégia para o tratamento de casos leves a moderados da COVID-19, visto que seu mecanismo de ação e segurança já foram garantidos por ensaios clínicos prévios. O que nos resta questionar é como o medicamento vai se comportar em pacientes com multi-morbidades. Esses dados ainda não foram informados, portanto, a real efetividade do Coronavir contra o SARS-CoV-2 precisa de ensaios clínicos de confirmação.
Referências consultadas: (1) MISHIMA, E. et al. Uric acid elevation by favipiravir, an antiviral drug. Tohoku J Exp Med., 2020 Jun; 251 (2): 87-90. doi: 10.1620/tjem.251.87. (2) FURUTA, Y. et al. Favipiravir (T-705), a novel viral RNA polymerase inhibitor. Antiviral Res., 2013 Nov;100(2):446-54. doi: 10.1016/j.antiviral.2013.09.015. (3) CONSTANZO, M., De GIGLIO, M.A.R., ROVIELLO, G.N. SARS-CoV-2: Recent reports on antiviral therapies based on lopinavir/ritonavir, darunavir/umifenovir, hydroxychloroquine, remdesivir, favipiravir and other drugs for the treatment of the new coronavirus. Current Medicinal Chemistry, 2020, v. 7. doi.org/10.2174/0929867327666200416131117. (4) DU, Y.X., CHEN, X.P. Favipiravir: pharmacokinetics and concerns about clinical trials for 2019 n-CoV infection. Clinical Pharmacology & Therapeutics, 2020. https://doi.org/10.1002/cpt.1844.
Comentários