Casirivimabe e imdevimabe - terapia monoclonal na COVID-19

Casirivimabe e imdevimabe - terapia monoclonal na COVID-19

21 de abril de 2021

Casirivimabe e Imdevimabe

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou no dia 20 de março de 2021 o uso emergencial de um medicamento contra a COVID-19: o Regn-CoV2. Esse medicamento é um coquetel que contém casirivimabe e imdevimabe, administrados em conjunto.
Esse coquetel é uma combinação de dois anticorpos monoclonais - proteínas produzidas em laboratório e que imitam a capacidade do sistema imunológico de combater patógenos nocivos, como o SARS-CoV-2. O medicamento Regn-CoV-2 é um produto novo e os dados obtidos até o momento são provenientes de estudos clínicos de fase 3.

Anticorpos monoclonais

O casirivimabe e o imdevimabe são anticorpos monoclonais direcionados especificamente contra a proteína Spike do SARS-CoV-2, projetados para bloquear a adesão e a entrada do vírus nas células do hospedeiro, o que significa que o casirivimabe e o imdevimabe ligam-se aos epítopos não sobrepostos do domínio de ligação ao receptor (RBD) da proteína Spike viral, bloqueando a interação com a enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2). Em um clinical trial com pacientes, esses anticorpos administrados conjuntamente reduziram o número de internações devido à COVID-19 e também as consultas emergenciais de pacientes com alto risco de progressão da doença até 28 dias após o tratamento, quando comparados ao grupo placebo.

Quem são os pacientes aptos para o uso?

  • Pacientes adultos ou pediátricos (a partir dos 12 anos ou que pesem mais de 40 kg) que não necessitam de suplementação de oxigênio, com infecção confirmada  por laboratório e que apresentam alto risco* de progressão para a forma grave da doença.
  • Casos leves e moderados, é contraindicado para pacientes graves, pois anticorpos monoclonais podem estar associados a piora nos desfechos clínicos quando administrados em pacientes hospitalizados com COVID-19 que apresentem necessidade de oxigênio suplementar de alto fluxo e ventilação mecânica.
  • Não é um tratamento indicado para a prevenção da COVID-19.
(*Fatores de alto risco: idade avançada, obesidade, doença cardiovascular, incluindo hipertensão, doença pulmonar crônica, incluindo asma, diabetes mellitus tipo 1 ou tipo 2, doença renal crônica, incluindo aqueles em diálise, doença hepática crônica, imunossuprimido).
O tratamento com casirivimabe e imdevimabe deve ser iniciado o mais rápido possível após um teste positivo para o SARS-CoV-2 e dentro de 10 dias após o início dos sintomas. A dose recomendada é de 600 mg de cada um dos anticorpos, administrados em associação pela via intravenosa, em administração única. Considerando todos os aspectos sobre esse tratamento, a via de administração e a seleção dos pacientes aptos ao uso, essa associação de anticorpos monoclonais é de uso RESTRITO a hospitais e sob prescrição médica, sendo a venda PROIBIDA ao comércio. O uso emergencial do Regn-CoV2 já foi aprovado nos Estados Unidos, Canadá e Suíça, e tem recomendação de uso pela Associação Europeia de Medicamentos. O laboratório Roche submeteu a solicitação de uso emergencial desse coquetel à ANVISA no dia 01/04/2021.
Nos estudos não clínicos sobre esse coquetel, não foram identificados problemas quanto à segurança que impedissem a continuidade da avaliação clínica desses anticorpos. Os resultados iniciais de eficácia demonstram que o benefício do tratamento foi observado a partir do 2º dia da aplicação do coquetel. Os principais resultados de eficácia demonstram que a administração do Regn-CoV2 1200 mg IV provoca uma redução de 70,4% no número de pacientes com hospitalização relacionada à COVID-19 ou morte por quaisquer causas quando comparado ao placebo. O tratamento com Regn-CoV2 foi bem tolerado, com perfil de segurança aceitável e baixas taxas (<0,03%) de reações de hipersensibilidade.
Os estudos permitem concluir que uma única dose IV de 1200 mg de Regn-CoV2 (600 mg de cada anticorpo) reduziu substancial e significativamente o risco de hospitalização relacionada à COVID-19 ou morte por todas as causas e tempo para resolução dos sintomas de COVID-19 em pacientes ambulatoriais com COVID-19 sintomático e com um ou mais fatores de risco para doença grave; os efeitos foram semelhantes aos do grupo de dose IV de 2400 mg. Além disso, o Regn-CoV2 demonstrou capacidade de reduzir a carga viral rapidamente, com resultados consistentes nos grupos de dose de 1200 mg e 2400 mg. Este efeito foi impulsionado pelo subgrupo soronegativo; efeitos menores nos pacientes soropositivos podem ser devidos aos seus níveis virais basais mais baixos e à observação de que, mesmo no grupo placebo, há eliminação do vírus (dados fornecidos à ANVISA pela farmacêutica Roche no relatório da solicitação de uso emergencial do medicamento).

Considerações importantes

  • Não há dados neste momento que suporte a eficácia e segurança de uso de casirivimabe e imdevimabe em pacientes com menos de 18 anos de idade.
    • Uso em crianças baseado em avaliações de farmacocinética.
  • Não há dados de eficácia clínica do produto contra as novas variantes do vírus (Há dados de avaliação in vitro, demonstrando boa capacidade de neutralização das novas variantes avaliadas, incluindo a P.1).
  • Incerteza sobre o potencial de indução de doença exacerbada (ADE) em caso de falha de neutralização/neutralização parcial do vírus.
  • O uso em mulheres grávidas deve ser feito com cautela, uma vez que há dados limitados do uso do produto nessa população.
    • Os estudos de toxicidade reprodutiva em animais não foram concluídos.
    • Em um estudo de reatividade cruzada de tecidos com casirivimabe e imdevimabe em tecidos fetais humanos, não foi detectada ligação que suscite preocupação clínica.
Os dados clínicos apresentados até o momento dão suporte ao uso emergencial do produto e não se vislumbra um risco à saúde relacionado aos dados faltantes no momento. Portanto, a ANVISA concluiu que o tratamento com Regn-CoV2 foi bem tolerado e teve um perfil de segurança aceitável em todas as doses avaliadas, sem novos sinais de segurança observados. Os dados da fase 3 do COV-2067 confirmam e estendem as descobertas da fase 1/2.
REFERÊNCIAS: ANVISA. Apresentação do Regn-CoV2 - Uso emergencial do casirivimabe e do imdevimabe. 20 de março de 2021. ANVISA. Avaliação do plano de gerenciamento de risco do casirivimabe e do imdevimabe. 20 de março de 2021.

Marissa G. Schamne
Marissa G. Schamne
PhD | Cientista

Pesquisadora e professora universitária, farmacêutica por formação. Despertou o interesse pela pesquisa durante a faculdade na Iniciação Científica, que obviamente foi na área da neuropsicofarmacologia. Concluída a graduação, segue o caminho da carreira acadêmica e pesquisa até a co-fundação do Rigor Científico – onde encontrou uma maneira de expressar todo seu amor pela Ciência, e vislumbra a possibilidade de levar essas informações ao maior número possível de pessoas. Era uma pessoa tímida que conforme foi se inserindo no meio acadêmico encontrou uma forma de libertar-se dessa timidez, e agora matraqueia sem parar. Apaixonada pela natureza, esportes ao ar livre e a sensação de liberdade que isso traz. Gosta de viajar pelo mundo, seja através dos livros que lê ou das viagens que faz. Almeja alçar vôos mais altos divulgando ciência por aí.

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