Diversos estudos pré-clínicos e clínicos evidenciam que os fitocanabinoides possuem propriedades anticonvulsivantes, e também podem ser uma alternativa promissora no tratamento do transtorno do estresse pós-traumático (PTSD - do inglês post traumatic stress disorder), depressão, ansiedade, doenças neurodegenerativas, adição e transtorno do espectro autista (TEA).
Estudos do grupo de pesquisa coordenado por Carlini no Brasil mostraram que o canabidiol (CBD), um fitocanabinoide não-psicotrópico, apresenta propriedades anticonvulsivantes em modelos animais e reduz a frequência das crises convulsivas em humanos em ensaios clínicos. Nos últimos anos, o uso do CBD no tratamento da epilepsia refratária, inclusive na Síndrome de Dravet e na Síndrome de Lennox-Gastaut, abriu uma nova era no que se refere ao tratamento desses pacientes.
O uso da Cannabis para o tratamento da epilepsia data de mais de 3800 anos, em registros dos Sumérios. Artigos científicos da década de 1940, tanto em modelos animais como pesquisa em crianças com epilepsia, foram os primeiros registros modernos do uso da Cannabis com fins terapêuticos na epilepsia.
Um fato que contribui para o avanço das pesquisas sobre os fitocanabinoides foi o isolamento, identificação estrutural e síntese do THC e do CBD por Mechoulam em 1960. Recentemente, cientistas do mundo todo apresentaram dados sobre os riscos e benefícios dos canabinoides no tratamento dos casos de epilepsia refratária. Os dois fitocanabinoides mais pesquisados para o tratamento dessa doença são o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC - a substância psicoativa) e o canabidiol (CBD - composto não-psicoativo). Ambos apresentam resultados promissores em prevenir as crises convulsivas e reduzir a mortalidade, com boa tolerabilidade e baixa toxicidade.
O primeiro estudo científico em humanos sobre o uso do CBD no tratamento da epilepsia da era moderna da ciência, foi conduzido por Carlini e Mechoulam. Ao acompanharem pacientes com epilepsia em uso do CBD 200 mg por dia, foi possível perceber uma intensa melhora do seu estado epiléptico, em alguns casos chegando a zerar as crises convulsivas em 3 meses de tratamento (para saber mais: MECHOULAM R., CARLINI EA. Toward drugs derived from cannabis. Naturwissenschaften, 1978, 65: 174-179).
Graças as inúmeras contribuições de Elisaldo Carlini às pesquisas sobre o CBD no tratamento da epilepsia, o jornal The New York Times publicou em 2020 um editoral sobre o assunto considerando Carlini o descobridor do uso do CBD na epilepsia.
Elisaldo Carlini faleceu aos 90 anos em 16 de setembro de 2020, sua trajetória e carreira como intelectual, cientista e militante pela legalização da maconha medicinal mostram a grandeza do professor Carlini, tendo vivido a pesquisa e a vida acadêmica em dedicação exclusiva, até o último instante.
Comentários