A ciência das fake news

A ciência das fake news

29 de março de 2021

Quem inventa fake news? Por quê?
Quando pensamos em discutir esse tema (que ganhou tanta importância na área da saúde) nossa primeira pergunta foi essa. E sim, existem trabalhos científicos que investigam essa questão! 
Quem inventa notícias falsas? Qualquer pessoa. Por quê? As razões são inúmeras: ódio, inveja, vingança, por questões políticas, ideológicas, para promover produtos ou marcas e para ganhar dinheiro. 
Fake news dá dinheiro? Sim. Na internet, tudo que se torna popular (viral) é bem recompensado devido aos anunciantes que pegam carona nesse sucesso (sem nem saber do que se trata o assunto, ou seja, eles não tem culpa diretamente). Isso é medido pelo número de cliques, likes e compartilhamentos. E por que nós clicamos, damos like e compartilhamos?! Porque, geralmente, as fake news são pensadas para mexer com as emoções de quem lê: medo, surpresa, ódio, etc. Elas também são formatadas de forma a passar confiança, o que nos leva a clicar e compartilhar. 
Antigamente as fontes de notícias eram o jornal, a TV e o rádio. Todos sabiam quem escreveu e a qual “coluna” pertencia. Se era uma sessão de fofocas, a notícia já era lida com outros olhos. Agora as informações reais e falsas estão lado a lado, em expressiva maior quantidade e com autores anônimos. E pior, a grande maioria das pessoas buscam informações na internet (mais precisamente nas redes sociais). Ainda, tendemos a acreditar nas informações que confirmam nossas crenças, o que é chamado de viés cognitivo.
A velocidade e a dimensão com que essas informações são espalhadas só é possível com a ajuda da tecnologia. Uma estimativa recente reportou que entre 9 a 15% das contas do Twitter são robôs e que o Facebook tem cerca de 60 milhões de usuários robôs. Mas a culpa não é deles! As notícias falsas são 70% mais compartilhadas (pelos seres humanos) do que notícias verdadeiras.
Qual a importância disso tudo? A disseminação de notícias falsas podem trazer consequências das mais variadas, dependendo do teor da notícia. No contexto da saúde, estamos lutando contra uma pandemia ao mesmo tempo em que lutamos contra uma “infodemia”, segundo o Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde. No mês de março de 2020, mais de 2000 iranianos tiveram intoxicação por metanol (296 morreram) devido à circulação de mensagens alegando que o mesmo prevenia infecções por Sars-CoV-2. E esse é só um dentre milhares de exemplos.
Infelizmente, fake news em saúde não é nenhuma novidade. Notícias sobre o potencial oncogênico de um medicamento anti-hipertensivo fizeram com que inúmeros pacientes parassem com a medicação de controle da pressão arterial, o que aumenta radicalmente os riscos cardiovasculares. E não há melhor exemplo do que a questão das vacinas. Até o início da pandemia, as fake news em saúde eram, em sua grande maioria, focadas nas vacinas, como “vacina contra sarampo causa autismo”. 
É fácil perceber a gravidade do problema e como o pânico é um sentimento usual nesse tipo de notícia. A pandemia em que vivemos só fez aumentar a preocupação e a relevância desse assunto, que deve ser combatido por todos, especialmente por profissionais da saúde e cientistas. Além de encontrar ferramentas para identificar e combater as fake news, é necessário criar novas maneira de disseminar informações verdadeiras, e repensar nossos valores a fim de priorizar verdades e não mentiras.
Referências consultadas: (1) Lazer et al. The science of fake news. Science, 2018. (1) Mesquita et al. Infodemia, Fake News and Medicine: Science and the Quest for Truth. International Journal of Cardiovascular Sciences, 2020.

Por que confiar na ciência?

Mentiras que matam

Jaqueline Carneiro
Jaqueline Carneiro
PhD | Cientista

Farmacêutica, pesquisadora, professora, e co-fundadora do Rigor Científico, encontrou na ciência um lugar no qual aplicar a determinação aprendida com os esportes. A beleza e a complexidade da Química Medicinal a fizeram seguir por esse caminho, que a levou até laboratórios de pesquisa e outros lugares do mundo. Ser professora era visto como um efeito colateral, até pisar numa sala de aula. Naquele instante, mais madura pessoalmente e profissionalmente, percebeu possibilidades de impactar vidas diretamente. Hoje sonha alto e quer trazer mais pessoas para o seu mundo de ciência.

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