Um outro aspecto importante do ensino superior é o tipo de instituição: pública ou privada. Tenho contato com ambas as realidades e são totalmente diferentes. O perfil do corpo docente, o perfil do acadêmico, a dinâmica institucional. Na universidade pública, o professor de carreira tem muito tempo para dedicar à pesquisa e à extensão, enquanto na privada essas atividades, na maior parte dos casos, não são remuneradas. Na universidade pública, o professor ministra uma disciplina, ou disciplinas dentro de uma área do conhecimento, enquanto na privada ele precisa ser versátil. Ele é professor. Do que? Depende do ano, do semestre, da demanda. Temos que exercitar a capacidade autodidata e, por vezes, ministrar disciplinas que nunca imaginamos na vida. Na universidade pública, o docente de carreira dedica-se exclusivamente a ela, enquanto na particular a docência é parte do trabalho dos professores, que tem mais um, dois, três empregos diferentes. Um ponto de distinção aqui é que o fato do professor da instituição privada estar inserido no mercado acaba agregando em competências que ele é capaz de dividir com seus alunos. Na universidade pública, temos um currículo que não economiza carga horária. É extenso, recheado de disciplinas, com um embasamento técnico-científico muito sólido. Na privada, o currículo é sistematizado para economizar carga horária, e muitas vezes temos que ministrar a mesma quantidade de conteúdos em muito menos tempo. Aí entra a criatividade e uso de metodologias que otimizem o aproveitamento do tempo e a integração entre os conhecimentos. Na universidade pública, o corpo discente é mais comumente recém egresso do ensino médio, mais jovem, menos inserido no mercado de trabalho e, essencialmente nos cursos integrais, exclusivamente dedicados ao estudo. Já nas instituições particulares, vemos um público heterogêneo, que vai desde pessoas que já estão no mercado de trabalho, muitas vezes já graduados, gerenciam filhos, família e têm menos tempo livre.
Enfim, são muitas as distinções, mas o fato é que você pode ir para a docência por vontade própria, como pode cair nela por acidente e se apaixonar. Se não se apaixonar, deixa essa cadeira para outro. Professor tem que ser apaixonado. É uma carreira árdua, temos que lidar com muitos limites e permanecer motivados. Temos que estar dispostos a aprender todo dia e a sermos sensíveis aos seres humanos 'aprendentes' que estão diante de nós. A aprendizagem exige vários ingredientes: a atenção, a memória, a capacidade intelectual, a linguagem... mas o mais importante deles é a motivação. Motivação é intrínseca, não conseguimos injetar nos outros. Não podemos motivar, mas podemos inspirar. Podemos e devemos. E, muitas vezes, é através da relação afetiva que travamos com nossos alunos que eles mantêm o entusiasmo e a perseverança para galgar seus objetivos.
Ser professor não é só uma profissão, é uma missão. Somos professores em sala de aula, no mercado, no bar, na praia. É responsabilidade, é fidelidade à ciência. É gostar de aprender e gostar de ver aprender, de ser superado. É querer ser a diferença, e não só mais um. Seja a docência a causa ou a consequência, vai ser pelo amor que você se manterá nela e nela terá realização.
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