A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa caracterizada pela morte de neurônios dopaminérgicos da substância negra pars compacta - uma região dos núcleos da base responsável pelo controle dos movimentos. Por isso, sempre que se fala sobre DP, logo se associa com os sintomas motores da doença: tremor de repouso, rigidez muscular, bradicinesia, entre outros.
Porém, na DP existe uma fase chamada de pré-motora caraterizada pela presença de sintomas não-motores, como a disfunção olfatória, problemas no trato gastrointestinal (TGI), depressão, ansiedade, insônia e prejuízos cognitivos. Esses sintomas não-motores impactam tanto quanto ou senão até mais que os próprios sintomas motores a qualidade de vida dos pacientes.
A disfunção olfatória é um sintoma não-motor da DP que surge muitos anos antes do diagnóstico e afeta diretamente a qualidade de vida do paciente. A hiposmia (diminuição da percepção olfatória) é um marcador muito comum para o diagnóstico da DP.

Disbiose intestinal é um desequilíbrio da microbiota intestinal. Quando ela ocorre, é sinal de que existe uma variação das bactérias presentes no intestino, seja em quantidade como em variedade. A etiologia da DP ainda não é totalmente compreendida, mas já é sabido que a disbiose do TGI, ou seja, o desequilíbrio na estrutura e função do microbioma intestinal está associado com a fisiopatologia da doença.
A disbiose na DP caracteriza-se pelo aumento de microrganismos pró-inflamatórios e pela redução de bactérias benéficas produtoras de ácidos graxos (SCFAs). Os cientistas acreditam que esse desequilíbrio contribuí para uma inflamação sistêmica e neuronal, que possivelmente leva a formação de agregados da proteína alfa-sinucleína mal formada - que pode ser observado tanto em tecidos do TGI como cerebral. A microbiota intestinal não é a única que despertou o interesse de pesquisadores.

Gian Pal e colaboradores publicarem em 2021 um estudo apresentando dados de que a disbiose na cavidade nasal também pode estar envolvida com a patogênese da DP. Eles acreditam que a disbiose na cavidade nasal próxima ao bulbo olfatório, pode desencadear uma cascata de neuroinflamação nessa estrutura, que leva a uma eventual perda de dopamina na DP.
Para responder se a microbiota da cavidade nasal é realmente alterada em pacientes com a DP, os cientistas caracterizaram a microbiota nasal de pacientes saudáveis e de pacientes com a DP. 
Os resultados desse estudo mostraram que indivíduos com a DP apresentam uma disbiose na cavidade nasal, caracterizada pela perda de bactéria benéficas e aumento da população de bactérias pró-inflamatórias. Uma vez que a mucosa nasal é relativamente próxima do bulbo olfatório, os resultados vão de acordo com a Hipótese de Braak, de que o bulbo olfatório é um dos locais onde o processo de neuroinflamação se inicia e se perpetua.
A microbiota da cavidade nasal de pacientes com a DP é diferente tanto dos familiares que moram juntos quanto de controles saudáveis aleatórios. A microbiota desses pacientes era composta principalmente bactérias pró-inflamatórias pertencentes ao filo Proteobacteria, incluindo a Moraxella catarrhalis. Além disso, foi observada uma redução significativa de bactérias com características anti-inflamatórias (SCFAs), como a Blautia wexlerae, Lachnospira pectinoschiza e Propionibacterium humerusii. Essa redução da população das bactérias SCFAs também ocorre na disbiose intestinal de pacientes com a DP. Portanto, os pesquisadores acreditam que esses microrganismos contribuem de maneira significativa para o equilíbrio da microbiota anti-infamatória, e que quando a população é reduzida, predispõem ao surgimento de populações de bactérias pró-inflamatórias.
Os dados apresentados por esse estudo fornecem evidências robustas para que a pesquisa sobre qual a exata contribuição da microbiota intranal ou a disbiose dessa região na neuroinflamação e patogênese da DP.
PARA SABER MAIS:
1)  Staging of brain pathology related to sporadic Parkinson's disease 
2) Stages in the development of Parkinson's disease-related pathology 
Referência: PAL, G., RAMIREZ, V., ENGEN, PA., et al. Deep nasal cavity microbiota dysbiosis in Parkinson's disease. Nature Parkinson's disease, 7:111, 2021. doi: https://doi.org/10.1038/s41531-021-00254-y